O amor, se administra

primeiro em doses cavalares
que constringem a respiração
aceleram o pulso
e saturam as veias
fazendo refém o corpo adicto

depois, em contínuas doses
homeopaticamente letais

gota a gota contaminando
cada célula, órgão, tecido
dessa substância sintética e alienígena

que, como um metal pesado,
decanta, permanece, acumula
se atrai a si mesma
em irremediável coágulo

o corpo, padece aos poucos
leal a juramentos jamais pronunciados

sempre um pouco mais na doença do que na saúde
sempre um pouco mais na pobreza do que na riqueza
até que há morte.